|
HOME
ARCHIVES
Kiko's (redwood) log
DogBlog
BlogErgoSum
Ela, m?e de Isabel Dutra Galery, artista pl?stica, Ot?vio e Augusto Dutra Galery, psic?logos;
Eles, filhos de Eunice Dutra Galery, professora de francï?½s e escritora.
Os quatro compartilham a paix?o pelas artes, de diferentes formas. Os quatro compartilham suas formas aqui.
|
|
terça-feira, julho 01, 2003
Durante a minha infância, tivemos animais até não poder mais. Tivemos cachorros, que representavam pra mim alegria e brincadeiras, tivemos passarinhos, que me faziam gostar de música e peixes, que me davam aflição. Tivemos codornas com seus ovinhos e tínhamos uma jabuti, que chamava Wanderlei até botar ovos, virando Wanderleia depois disso.
Morávamos numa casa enorme, com um quintal estilo arca de Noé, onde casais e mais casais de animaizinhos se multiplicavam. O quintal era em três estágios, no primeiro, o campinho de futebol, no segundo, o laboratório e o pé de araça e no último o gramado. Por fim, lá longe, ficava a lavanderia. Ai, que preguiça dava de ir até a lavanderia... Meus pezinhos de 5, 6 anos não chegavam lá fácil.
E era encostado à lavanderia que fizeram o cercadinho cheio de coelhinhos. O pêlo, branco ou cinza, ou marrom escuro ou malhado, os olhos verdes ou vermelhos. Os coelhinhos representavam ao mesmo tempo o carinho e a timidez, a fragilidade e a doçura. Lembro-me de acariciar com a vista seus pêlos macios. Sem permissão de entrar no cercado porque os coelhinhos eram frágeis demais. E eu podia deixar entrar um cocker lá dentro que lhes destroçaria o pêlo sedoso.
Eram leves, os coelhinhos. Eu sabia pelo modo com que se movimentavam, a forma com que conseguiam saltar todo o tempo. E lhes era permitido fazer sexo. Eu me lembro de rir da freneticidade do ato. Porque um cachorro tomaria um banho se tentasse fazer isso, aplicado pelas mãos certeiras com o balde da Santa, enfermeira de minha Vó Jenny, ou da Uxa, nossa babá.
Mas eu queria mesmo era ver o quintal cheio de coelhinhos. Soltos, pulando livres pelo gramado, comendo os rabanetes da hortinha do segundo estágio do quintal, fazendo sexo em cima da mesa de ping-pong.
Eu queria era que os coelhinhos conquistassem o mundo. Os coelhos representavam o amor.
posted by Augusto Galery
3:24 AM


|